The Walking Dead (2010 e 2011)
Como eu disse, o final de período está me complicando para assistir filmes. Porém, dá pra continuar acompanhando os seriados, por estes terem episódios menores.
Nesse final de semana eu acabei de ver a primeira metade (agora só volta no dia 12 de fevereiro) da segunda temporada de The Walking Dead, sensacional série de zumbis baseada em
quadrinhos homônimos. Se você ainda não viu, recomendo que tire 12 horas da sua vida para assistir às duas temporadas e se inteirar do que está sendo feito de melhor na TV americana.
Daqui pra frente, o spoiler come solto. Leia por sua conta e risco.
O grande mestre dos filmes de Zumbi, George Romero, sempre fez questão de afirmar que os zumbis na verdade eram personagens criados para analogia. Para Romero, os Zumbis representavam os excluídos, os sem-voz da sociedade. E é sob essa ótica que aprendi a observar os desmortos.
O zumbi, enquanto monstro, é fraco. Ele é previsível. A graça dos filmes de zumbi nunca esteve nas perseguições e sustos, e sim nas relações humanas entre os sobreviventes nessa condição extrema (o melhor filme de Zumbis de todos os tempos, Despertar dos Mortos, chega a ter quase uma hora sem que nenhum morto-vivo rasteje pela tela). O seriado da AMC não é diferente. Nessa segunda temporada, os sobreviventes conseguem chegar a um porto-seguro, uma fazenda onde eles conseguem se ver quase a salvo da infestação zumbi que tomava conta do mundo. A permanência dos sobreviventes estava sujeita a uma série de regras básicas, impostas pelos donos da fazenda. Porém, nos dois últimos episódios, é revelada uma situação nova: o dono do lugar se recusa a matar os "errantes", preferindo trancá-los em seu celeiro, onde eles não podem fazer mal a ninguém. O argumento de Hershel (o dono da fazenda): Aqueles são seres humanos. Doentes, famintos, mas ainda pais, mães, irmãos e esposos de alguém.
Isso deflagra um verdadeiro motim entre os sobreviventes. Shane, o herói sem caráter, lidera os sobreviventes em uma matança sem piedade. O que legitima a matança de Shane? "Eles não são como nós. Eles não morrem (ou seria "vivem") como nós".
Se pararmos para pensar, o pensamento de Shane é a origem de todas as guerras. Mesmo que o outro não constitua uma ameaça imediata, é quase impossível simplesmente tolerar sua presença. "Os zumbis os matariam sem dó", argumentaria alguém. Mas é o fato dos "sobreviventes" não matarem sem sequer refletir que os torna diferentes dos errantes. A fazenda de Hershel era a civilização em meio ao caos que se tornou o mundo na praga. Ao atirar no primeiro zumbi do celeiro, Shane trouxe a barbárie para aquele refúgio. Sem respeitar as regras estabelecidas, sem respeitar a hierarquia do próprio grupo, sem preservar os valores humanos que são tão caros a todos, Shane igualou vivos e mortos com um puxão de gatilho.
Afinal, o que é ser zumbi hoje em dia?
Recomendo o disco ZombieOper: Um ensaio sobre o apodrecimento da humanidade em 2 atos.
Ouça aqui.