Origem Secreta - A história da DC Comics (Secret Origin - The story of DC Comics - 2010 )
É um documentário institucional, oficial, então eu não esperava ver nenhum assunto polêmico. O foco é na editora, e não nos personagens, o que me frustrou um pouco. É legal ver os depoimentos dos escritores, que são muito didáticos para explicar a evolução das eras, a crise editorial dos anos 50 e tudo mais. Mas nem uma palavrinha sobre a "Crise nas Infinitas Terras"? É claro que o documentário foi feito já tendo em mente o Reboot desse ano, e talvez essas omissões sejam propositais, mas senti falta. Vale muito para explicar um pouco do fascínio que as HQs de super-heróis exercem sobre milhares de pessoas.
Eu gosto de quadrinhos desde que era criança. Comecei, como quase todo brasileiro, pelas revistas do Maurício de Souza, mas muito cedo pulei para os quadrinhos de super-heróis. Me lembro de juntar dinheiro - ou pior, pegar emprestado com meu irmão mais novo - para comprar quadrinhos do Homem Aranha. Há já algum tempo só compro revistas especiais. Não compro nenhuma revista mensal, mas mesmo assim dou "
algum jeito" de acompanhar o que tem acontecido no mundo dos quadrinhos, em especial na DC Comics.
Desenvolvi uma teoria - que é falha em muitos aspectos, mas serve perfeitamente para um botequim - sobre a relação das pessoas com os quadrinhos de super-heróis (que diz mais sobre a MINHA relação com quadrinhos):
Na infância, eu lia Homem-Aranha. É um quadrinho sobre crescer. "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades". É perfeito para um garoto de oito anos que acaba de receber as chaves de casa, ou que ganhou permissão para ir de bicicleta sozinho para a escola. Mesmo com todas as cagadas editoriais que a "Casa das ideias" fez com o personagem, o amigão da vizinhança para sempre terá um papel fundamental no que eu sou hoje. Um pouco mais velho, na adolescência, comecei a ler X-men (que por muitos anos foi "Xis-men" pra mim). Muito já foi dito que os mutantes de Stan Lee seriam uma metáfora para negros, ou para homossexuais, mas a real é que as histórias são sobre inadequação. Um eterno lamento de "porquê o mundo não me compreende!?". Quer coisa mais adolescente do que isso? Quando me tornei um jovem adulto (ali pelos 20, na faculdade), queria quadrinhos mais adultos, mais sérios. Nos enlouquecidos dias do início desse século (ainda sob forte influência dos anos 90), "adultos" e "mais sérios" se resumiam a "violência". É a época de ler Justiceiro, Demolidor, e mesmo o Batman, esses anti-heróis que não só são hostilizados pela sociedade: eles realmente agem ACIMA da lei. Se acham acima de qualquer julgamento moral. É com essa arrogância que chegamos à faculdade e, infelizmente, muitos jamais passam dessa fase... Como vocês podem ver, até os vinte e poucos, eu era um marvete de carteirinha. Mais ou menos aos 22 eu parei de ler quadrinhos por um tempo. Até curtia quando alguma coisa passava por mim. Mas não tinha mais tempo pra quadrinhos, tinha que ler muita teoria. Muito sério.
Na reta final do mestrado, quando eu tinha uns 26 mais ou menos, sentia falta de ler algo que me distraísse, mas não tomasse muito meu tempo. E lá estavam os quadrinhos nas bancas, me esperando. Porém, os caminhos que eu conhecia não me atraiam mais. Por isso, para meu "eu"
adulto, a DC me parecia mais sedutora, com sua simplicidade. Aos vinte e muitos, os quadrinhos eram uma forma de me conectar com meu "eu" infantil. Eu não queria ler sobre um mundo onde vilões e heróis se confundem, eu queria um mundo preto no branco (eu ainda não tinha lido "O reino do amanhã", mas hoje essa revista resume o que eu acho sobre os quadrinhos "adultos" dos anos 90 e 00. Se você ainda não leu, baixe
aqui). Foi nessa época que me apaixonei pela
Sociedade da Justiça da América. Recentemente tenho me interessado cada vez mais pelo Super-Homem. Consigo até imaginar o Rafael de 13 anos - "rebelde' - me olhando com jeito de repúdio: como assim? O escoteirão? Num arco recente da SJA, em um dado momento, alguém comentou que o que faz do Super-Homem o maior herói de todos não é a parte Super, e sim a parte Homem. Eu adoro Quentin Tarantino, me divirto com a análise do personagem de Kill Bill, mas acho que ele não poderia estar mais errado. Clark Kent não é uma caricatura da humanidade. É o resultado do maior poder do homem da capa: super empatia. Super capacidade de compreender que os humanos temem e usar essas "fraquezas" para impulsionar heroísmo.
Não sei como será minha relação com os quadrinhos daqui a alguns anos, mas acho que dificilmente eles deixarão de fazer parte da minha vida. Será que eu vou chegar a ler
Tex?
(PS: Não se iludam, a maioria dos textos desse blog terá 1/5 desse tamanho.)